domingo, 7 de junho de 2009

Uma vida q.b.

O monte nunca deixou de ser verde, também nunca perdi o gosto pelo pasto, o gado sempre caminhou em linha recta, a fiel cadela sempre adiantou o cacarejar, a terra sempre que mais me foi auto suficiente, nunca me queixei, nem nos dias de seca mais extrema, nunca nada me abandonou. Mas hoje...hoje peguei na trouxa, juntei farrapo com farrapo, vesti a mais bela calça esfarrapada e cheguei, hoje cheguei, já visitantes me esperavam, esperavam o mito. Incrédulas, fecharam-se contentadas com o "ele lá sabe o que faz", de tapete bem-vindo sacudido encheram os lábios de vermelho paixão, o verniz estalava ao mínimo arrepio, o odor citadino intoxicante enfeitiçava qualquer pulmão...
Quatro e meia da manhã, um toque vibrante acorda, estranho o sacristão não era tão bem pago para a noite ter horas extras, quanto mais de aviso em metade da hora. Era relógio que se iluminava na noite, como que desajeitado, com um dedo pra cada lado, tacteei, "...temos de voltar a repetir..." acompanhado de um uivar que me subira até aos meus confins mais superfulos, ao pé daquele uivar tão gélido até a calçada e o mármore da cidade parece pedra escaldante, antecipou qualquer cacarejar...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Que tu julgas.

-Que me julgas tu?
-De que cor me vês?
-Amarelo, dourado?
-Como tu me lês?
-Linhas tortas, palavras direitas, frases mortas, rimas feitas?
-Quem tu pensas que olhas?
-Uma miragem ou ao passado uma homenagem?
-Quem tu pensas ser?
-Um ser ou um foi?
-Que tu cheiras?
-Doce cabelo labio grosso, olhar intenso enquanto beijo no pescoço?
-Que tu lembras?
-Estadias na berma, vistas do céu, sentado só chorando que nem réu?
-Que tu me sentes?
-Sempre lá, sempre ausente, sempre por outono doente?
-Que tu me vives?
-Folheado das mais belas palavras fantasia, tardes de sonhos de poesia?
-Que agora tu julgas?
-Carne pra canhão, texto emoção, palavras gemidos, diluvios arrependidos, fruto espremido, amarelo rosado com tons de azul...Nada já muito seria.